MORANDO FORA

Com frequência escuto pessoas próximas dizendo que está cada dia mais difícil viver no Brasil por diversas razões, como segurança, desemprego e alto custo de vida.

Por outro lado, também é comum que muita gente, mesmo sem ter planos de ficar fora do Brasil por muito tempo, queira ter a experiência de conhecer e se integrar a uma nova cultura, seja para fazer um curso, aprender uma nova língua ou diversificar o currículo com uma expatriação.

Sempre amei viajar, e em 2012, resolvi juntar o útil ao agradável: viajei para Paris para um intercâmbio acadêmico e, paralelamente, melhorar o meu francês. Claro, estava empolgada e posso afirmar que foi uma das melhores experiências da minha vida.

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Primeiro dia em Paris (2012)

Quando conto essa história, todo mundo imagina a sorte que é acordar, olhando para a Torre Eiffel, sair por aí com uma baguete debaixo do braço, jantando pain au chocolat com champanhe. Clichês a parte, a vida não é bem essa – nem em Paris e em nenhum lugar do mundo.

eiffel tower

Juntando tudo isso, acho que é importante frisar que estar de saída, seja ela definitiva ou temporária, demanda alguns cuidados:

1) Objetivo

Acho que o primeiro passo do planejamento começa por entender o seu objetivo. A ideia é trabalhar, estudar, viajar? Por quanto tempo? Qual valor irá agregar ao seu futuro? Sozinho ou acompanhado?

2) Localização

Não importa para onde você esteja indo, sempre existirão coisas boas e coisas não tão boas assim. Pergunte a si próprio se o país que você planeja viajar atende bem as suas expectativas com relação à localização. Morar na Austrália pode não ser uma boa opção se você pensa em visitar a família com frequência no Brasil, fazer intercâmbio na Dinamarca pode ser complicado para quem não gosta de frio ou ir para os Estados Unidos pode ser bem frustante se você quer viajar para outros estados/países aos finais de semana.

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Uma das vantagens de morar na Europa: poder visitar vários lugares de trem, ônibus ou avião. Na foto, meu primeiro fim de semana fora de Paris, visitando o Castelo de Fontainebleau – na Île de France

3) Língua

Nem sempre é tão simples aprender uma nova língua e, ao mesmo tempo que pode ser um desafio, é essencial. Não são todos os lugares que todo mundo fala inglês como segunda língua, e a sensação de isolamento de não poder se comunicar é um grande motivo para tornar a sua mudança um fiasco.

4) Custo

Dinheiro não cresce em árvore e mesmo que você esteja indo trabalhar, é importante avaliar o custo de vida da região para não se surpreender no futuro. Ah, e sempre viaje com uma reserva de emergência – Alias, você deveria ter uma mesmo que não esteja planejando viajar tão cedo (clique aqui para saber mais).

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Além de mim, tanto a Gabi quanto a Mari, colaboradoras aqui do blog, já passaram/estão passando por experiências fora do Brasil.

“A primeira vez que morei fora foi por pouco tempo: 4 meses. Eu fui para o México fazer um intercâmbio profissional pela AIESEC. A experiência foi curta, mas bem intensa, principalmente por ser a primeira vez que vivia uma mudança desse tipo. As melhores lembranças que tenho são as amizades que fiz na cidade em que vivi (Aguascalientes): a hospitalidade do povo mexicano é realmente mágica. A maior dificuldade foi me adaptar à comida, que além de muito picante, era bem gordurosa e os horários das refeições são completamente diferentes do nosso (tudo bem mais tarde: café às 11h-12h, almoço às 16h, jantar depois das 21h).

A segunda experiência de morar fora estou vivendo agora, dessa vez na Espanha. O contexto é completamente diferente: vim pois meu marido ganhou uma bolsa de estudos no país, e, como ele tem nacionalidade espanhola, decidimos que era hora de executar esse plano que já tínhamos em mente. Faz um ano que estou na Espanha e o ponto mais difícil tem sido a integração. Como trabalhamos em casa, temos pouco convívio com as pessoas da cidade, fizemos poucos amigos por enquanto. Eu sinto falta de ter alguém para conversar e que entenda tudo o que digo, rs. A maior vantagem é a possibilidade de desfrutar de muitas coisas que não conseguíamos no Brasil, desde bons restaurantes, até produtos top de linha no supermercado, a facilidade de viajar para destinos encantadores ou mesmo de comprar artigos pessoais que antes eram inacessíveis.

As dicas práticas mais valiosas que posso dar para quem pretende morar fora são: 1) pesquise o funcionamento de tudo no país, conheça as principais leis e os comportamentos a evitar. Muitas vezes o que é permitido no Brasil pode ser proibido em outros lugares, e mesmo uma postura que parece simples no nosso país pode nos comprometer quando estamos em outro. Agora, a dica 2: traduza e legalize documentos que possam ser úteis ou necessários no país de destino, desde certidão de casamento, nascimento de filhos, se for o caso, certificados de estudos, comprovações de renda etc. Ter esses documentos no idioma local e reconhecidos legalmente ajuda a tocar a vida, você pode dar seguimento aos estudos, por exemplo, solicitar ou prolongar vistos de permanência e fazer muitos outros trâmites oficiais.”

(Gabriela Morandini – Colaboradora)

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“Acho a expressão “morar fora” muito conveniente. De fato, é estar fora da sua zona de conforto, do seu espaço comum e das referências que construímos ao longo do tempo.

Pode ser complicado, mas também pode ser enriquecedor. Claro, estando sozinho nesta aventura, tudo triplica de tamanho, mas acho, de verdade, que o resultado é ainda mais fortalecedor como experiência.

Nas minhas três situações, breves porém intensas, diria que há em comum três etapas: desconforto, adaptação e comodidade. (Seria muito bom também atingir a fase “pertencimento”, mas passei a ter cada vez mais certeza de que esta sensação é exclusiva de nossa terra mãe).

Como adultos, o início exige concentração, observação e aprendizado. Entender alguns aspectos, como hábitos, cultura, rotina, linguagem (dominando, ou não, o idioma local, estrangeiros soam como estrangeiros) e preços (afinal, dinheiro não nasce em árvore!) demandam tempo e dedicação, mas quando mais absorvidos, fazem a confiança crescer. Na minha opinião, quando se está longe de tudo, este é um dos sentimentos mais agradáveis de se adquirir.

O momento seguinte representa consolidar seu espaço na sua nova comunidade e retomar hábitos comuns, do dia a dia, que parecem simples e banais, mas fundamentais para o bem-estar (e, sinceramente, só notei quanto viver o “básico” é bom ao conseguir realizar estas simples tarefas). Fazer compras, usar o transporte público, cumprimentar vizinhos, se exercitar na praça e pedir comida por telefone são apenas alguns exemplos de atividades que me fortalecem diante da aventura de estar sozinha em lugar “não tão mais” estranho.

O final, e aí varia um pouco de quanto tempo você permanece neste lugar, é se sentir à vontade. “Cômodo” para mim é não ter mais tantos receios, reconhecer caminhos apenas olhando o nome de ruas ou pontos de referência e de algum modo, encontrar seu próprio ritmo em meio a tantas novidades e se sentir bem com aquilo que você construiu, sem fazer comparações com aquilo que você tinha antes.

Por mais sofrido que tudo até possa recer (não quero desanimar ninguém, é sempre muito bom, acreditem!), a experiência sempre parece chegar ao fim quando você, finalmente, se sente em “casa”.

E sei lá, talvez seja para ser assim. Você volta para a outra “casa”, percebe o quanto sentiu saudade… mas daí a saudade passa e você abre a internet e começa a planejar tudo de novo e o “novo” nunca soou tão gostoso.”

(Mariana Dualibi – Colaboradora)

Malas prontas? Convencido que essa será uma das melhores experiências da sua vida? 🙂

 

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Thaís Schultz

Paulista morando na Florida (EUA). Inquieta, curiosa e fã de uma boa história. Por aqui, compartilho as minhas andanças pelo mundo. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀