A COWPARADE RETORNA A SÃO PAULO, COLORIDA E DIVERTIDA COMO SEMPRE

“É o maior e mais bem sucedido evento de arte pública no mundo.”

É assim que a CowParade Brasil se apresenta na página oficial. Em sua 10ª edição, ela retorna a São Paulo com a temática “Uma viagem pelo mundo” – bem coerente com a ideia de celebrar o aniversário de uma década do evento.

Desta vez, artistas convidados usam a escultura da vaca como base para homenagear uma das 45 cidades onde já aconteceu a exposição.

Tudo começou com esculturas em formato de vaca produzidas pelo artista suíço Pascal Knapp, em 1998, com a intenção de provocar o riso. Em 2000, os direitos das esculturas foram comprados e surgiu a CowParade Holdings Inc. Mais de 5 mil esculturas foram criadas desde esta nova fase.

Como o próprio artista desejava desde o princípio, o divertimento e o riso são parceiros desta arte. Não dá para evitar dizer que encontrar com estas vaquinhas pela cidade é, no mínimo, inusitado. Muitas vezes, em outras edições, me perguntei o motivo da escolha deste animal e qual a relação dele com os temas e o público. Curiosamente, a resposta pode ser encontrada no próprio site da organização:

“Por que vacas? Há algo de mágico com a vaca. Ela representa coisas diferentes para pessoas diferentes ao redor do mundo: é sagrada, é histórica, mas o sentimento comum é de carinho. Ela simplesmente faz todos sorrirem.”

As vacas podem estar em três poses: em pé, pastando e repousando. Sua forma oferece ângulos e curvas que originam uma tela tridimensional única para os artistas.

São Paulo, a cidade amante da arte de rua, das intervenções e ocupações criativas, das cores e da integração de culturas, não podia deixar de receber esta exposição divertida e popular.

Ficou curioso? Desde o dia 26 de abril, espalhadas pela cidade, você tem a chance de encontrar algumas delas pelo caminho ou, se preferir, ir até seu encontro:

Mais informações e “Mapa das vacas” disponíveis em: www.cowparade.com.br/

SÃO PAULO: GRAFITE + BECO DO BATMAN

Muitas são as teorias quanto à origem do grafite em São Paulo, mas não importa se você decide considerar a opinião dos acadêmicos ou as lendas urbanas, o fato é que esta forma de arte é vista na cidade desde os anos 80.

O debate sobre considerar o grafite arte ou vandalismo é antigo, mas constantemente presente para quem vive nos grandes centros urbanos. A pichação, comumente acompanhada de frases de protestos, insultos e assinaturas de gangues é considerada uma agressão degradante a paisagem. A distinção entre ela e o grafite é extremamente importante para a expansão do aceite e produção desta arte.

Pode-se dizer que a consolidação do grafite como produto artístico é reflexo do como cada gestão pública lida com estas intervenções urbanas. Para termos uma ideia de como o processo é longo e demorado, solicitações para realizar intervenções na avenida 23 de Maio eram feitas desde a administração de Jânio Quadros (1986-1989), mas foram somente autorizadas no fim da gestão de Fernando Haddad (2016).

Neste contexto de ilegalidades e permissões, temos que mencionar os eventos mais recentes: Em janeiro deste ano, como parte do programa “São Paulo Cidade Limpa”, o novo prefeito João Dória Jr. anunciou que seriam apagados os painéis presentes na avenida 23 de Maio. Nesta mesma ação, a Secretaria da Cultura de São Paulo afirmou que pretende criar uma área para a produção de murais, a ser chamado de “grafitódromo”. Segundo a mesma, a inspiração da proposta vem de Wynwood, um bairro em Miami que abriga diversos grafites e todo um esquema de comercialização de produtos licenciados para viabilizar o negócio.

Para o prefeito, assim como a arte fica nos museus, o grafite também deve ficar em “lugares adequados”. Em oposição, para o artista plástico Jaime Prades, a criação deste espaço específico constitui uma visão paternalista que impõe o que considera ‘certo’, logo, o grafite torna-se errado, tendo que ser contido e controlado.

Tem-se conhecimento de que os grafites, por estarem expostos à luz, chuva e demais fatores naturais, ou até mesmo serem danificados por ações humanas, devem passar por reparos e ajustes. Mas mesmo que em condições precárias, cobrir as obras com tinta cinza não parece a resposta mais correta.

É claro – e necessário – que este assunto seja ainda muito debatido, como muito já vem sendo desde o início das ações, por políticos, artistas e população local. Encontrar o equilíbrio entre a liberdade criativa, as leis e a expectativa dos moradores será um grande aliado para a prosperidade desta arte.

Mas toda essa conversa torna importante destacar um espaço que pode até vir ser chamado de “galeria à céu aberto”, ou Beco do Batman, como é mais conhecido. De surgimento espontâneo, entre vielas do bairro da Vila Madalena, zona Oeste da cidade, muros e paredes são cobertos por diversos desenhos e chamam a atenção dos paulistanos e turistas. Com uma pegada muito semelhante à região de Wynwood mencionada anteriormente, é parada obrigatória se você curte street art de verdade!

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Ao que tudo indica, na década de 80, o desenho de um homem-morcego feito em uma das paredes incentivou estudantes de arte plásticas que moravam por lá a também registrarem seus trabalhos (Posteriormente até sendo usado como referência para o nome do local – Homem Morcego/Batman). Com influências cubistas e psicodélicas, os muros cinzas e sujos ficaram no passado.

O processo de renovação dos grafites chama a atenção e é exemplo de manutenção e ocupação de espaço público. A constante qualidade e rotatividade das obras atrai o público, que retorna com frequência para conferir as novidades. As disputadíssimas paredes são administradas pela comunidade e artistas, que sempre retocam ou renovam os desenhos, mantendo a qualidade e o charme.

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Este passeio é melhor aproveitado sendo feito a pé. Podendo ser visitado todos os dias, a dica é programar para conhecê-lo entre segunda e sexta-feira, evitando os dias mais cheios, para apreciar os murais com mais calma. E não se esqueça: faça muitas fotos… Na sua próxima visita talvez os desenhos sejam outros!

Como chegar: Beco do Batman – Acesso pelas ruas Gonçalo Afonso e Medeiros de Albuquerque, Bairro Vila Madalena – São Paulo

Fontes:BBC e Veja SP